As grávidas açorianas com problemas de alcoolismo vão ser alvo de uma acção de sensibilização, sinalização e encaminhamento. Esta é uma problemática que vai assumir prioridade junto da Direcção Regional da Prevenção e Combate às Dependências. O projecto será implementado junto dos centros de saúde do serviço regional de saúde.
Sensibilizar, sinalizar e, em casos necessários, encaminhar as grávidas que tenham problemas de alcoolismo é uma das acções que a Direcção Regional da Prevenção e Combate às Dependências vai implementar na região no próximo ano.
A iniciativa vai ser, no terreno, coordenada entre a tutela e os Centros de Saúde do arquipélago que têm a seu cargo os serviços de acompanhamento materno e infantil.
Trata-se de uma problemática que, embora sem estatística existente, afecta as grávidas açorianas e que, segundo anunciou a directora regional da Prevenção e Combate às Dependências, Paula Costa, passará a ser uma prioridade assumida pelo governo regional: “está a ser iniciado um trabalho, com as unidades de saúde, que é onde conseguimos encontrar esta população, que é muito importante porque trata-se de pessoas que estão a gerar uma criança e cuja prioridade definida, quer a nível nacional, e que nós assumimos também, vai para os jovens e para as grávidas”.
Sinalizar e encaminhar
Esta acção da Direcção Regional da Prevenção e Combate às Dependências quer, não só identificar os casos de consumos de álcool entre as parturientes, como também encaminhar estas situações.
Isso mesmo explicou a responsável: “sinalizar é importante, mas não é suficiente. A partir do momento que se sinaliza, é preciso saber o que se vai fazer e ir já definindo os circuitos de apoio, a quem é que se pode recorrer, e definir um plano de acção para sabermos o que fazer nestas situações”.
Questionada sobre a dimensão desta realidade nas ilhas açorianas, Paula Costa refere tratar-se de uma problemática “infelizmente” transversal à sociedade: “é uma realidade que existe, infelizmente, em todo o lado. Não é exclusivo da nossa região. Mas é uma preocupação porque se houver uma grávida que tenha consumo de álcool é muito mais preocupante que uma mãe – que é evidente que também é uma situação preocupante, que tenha esse problema”.
Sensibilizar grávida e famílias
A responsável refere que, ao sensibilizar as grávidas para a temática do alcoolismo, sensibiliza-se também o restante agregado familiar: “com esta intervenção, também queremos chegar a outros níveis porque uma grávida tem família, tem companheiro e o facto de sensibilizar, chamarmos a atenção e de ser notificada uma pessoa, aquilo que nós pretendemos é chegar também às famílias”, não só no sentido de sinalizar outros problemas no agregado familiar, mas sobretudo para consciencializar para os perigos deste tipo de dependência e das substâncias psicoactivas em geral.
A mais recente estatística sobre o consumo de dependências nos Açores, na qual se baseia a tutela para a tomada de determinadas decisões, refere que, depois do tabaco, o álcool é a droga lícita de maior consumo na Região, seguindo-se as drogas ilícitas.
O último estudo “Dependências e outras violências…- Estudo comparado 2004-2009”, da autoria de Alberto Peixoto refere que: “em termos de dimensão e custos ao nível da saúde, resultantes do consumo, em primeiro lugar surge a dependência do tabaco, seguindo-se o álcool e por fim a droga. Se tivermos em conta as relações interpessoais e a propensão para a violência, a maior preocupação advém do consumo abusivo de álcool.”
Alarmante é o facto de em “comparação de dados com o estudo nacional de 2007”, conclui-se que “nos Açores, a população que assumiu já se ter embriagado é superior à média nacional”.
As motivações surgem socialmente, explica: “continua-se a consumir sobretudo por prazer em que o beber social, o beber associado à alimentação e o beber no contexto da diversão são as justificações. Denota-se uma tendência crescente na crença de que prazer, diversão e consumo de bebidas alcoólicas são indissociáveis”.
Mulheres a beberem mais
A prevalência feminina do consumo de álcool, que era de 30%, passou para 41,4%: “portanto as mulheres assumem-se de forma crescente no consumo de todas as substâncias, tendo sido ao nível do consumo de álcool que mais se afirmaram”, refere o estudo.
“Na região, em 2004, já tinham sido vítimas de pelo menos uma acção violenta praticada por indivíduo alcoolizado 160 pessoas por cada mil habitantes e a vitimização por indivíduos sob a influência de droga representava 34 por cada mil. Em 2009, os indivíduos que tinham sido vítimas de indivíduos sob influência de droga passaram para 62 por cada mil habitantes enquanto sob a influência de álcool a vitimização aumentou para 176 casos em cada mil habitantes. Ao nível do consumo de bebidas alcoólicas, registaram-se alterações bastante expressivas em todas as classes etárias até aos 35 anos. Destaca-se o particular agravamento da prevalência de consumo regular antes dos 15 anos. De 162 adolescentes entre cada mil, com hábitos de consumo regular, em 2004, passámos para 245, por cada mil, em 2009, traduzindo um aumento de 51%”.
O estudo e estima a “existência de 30 000 indivíduos dependentes de bebidas alcoólicas nos Açores, em 2004, e, embora a prevalência de consumo tenha aumentado 1,2%, em 2009, o número de dependentes de álcool poderá mesmo ter diminuído 3,8% se tivermos em conta a diminuição no número de consumidores regulares diários. Assim, em cinco anos, perderam-se cerca de mil alcoólicos, ou, se preferirmos, 200 por ano, estimando-se para 2009 a existência de 29 000 alcoólicos”.
As drogas na gravidez
Ao nível do consumo de drogas durante a gravidez, segundo o Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT), a nível nacional, “registou-se uma consciencialização bastante positiva, materializada na redução de cerca de 50% no número de casos. Em 2003, tinham sido acompanhadas 309 grávidas e, em 2008, diminuíram para 120”, referencia o estudo de Alberto Peixoto.
“O mais recente estudo da Cardiff University, no País de Gales, revelou que o consumo de tabaco durante a gravidez aumenta o risco de perturbações psicológicas nos bebés, tendo impacto sobre a impulsividade, a atenção e a aprendizagem”.
Apesar dos alertas dos técnicos para que as parturientes não fumem “doze em cada cem mulheres grávidas fumam, conhecendo os riscos, conforme estima Pais Clemente, presidente do Conselho Nacional do Não-fumador”.
“Ao nível da descendência, o alcoolismo é tido como um factor de redução da fecundidade, aumenta a probabilidade do aborto involuntário, de partos prematuros, correndo os filhos de alcoólicos o risco de sofrerem de patologias tanto ao nível físico como ao nível mental”, assenta a bibliografia científica.
Humberta Augusto- haugusto@auniao.com
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