9 de janeiro de 2015

A idade de aprender

fonte;   Gabriel Chalita

O tempo de aprender é todo tempo, toda idade, toda oportunidade.

A idade de aprender

Encontrei, no final do ano, uma senhora sorridente em uma das calçadas de São Paulo. Apresentou-se, desejou-me boas festas e falou de seu orgulho de ser recém-formada. Julia, é esse o seu nome, formou-se aos 72 anos de idade. É, agora, nutricionista. Falou-me de alimentação, de cuidados que precisamos ter para que as crianças adquiram bons hábitos, do comer apressado, da falta de tempo para prestar atenção às coisas e às pessoas. Disse-me que quer muito escrever um livro. Um livro simples sobre o que aprendera. Foi além, afirmando ser o escritor um generoso em essência. Porque partilha o que sabe. Porque permite que outras pessoas participem de suas ideias e de seus conceitos.
Eu a incentivei. E quis saber o que a levara a cursar a faculdade. Ela falou-me de um programa de rádio em que uma senhora que havia se formado aos 90 anos estava dando uma entrevista, contando da sua emoção e dizendo que a idade de aprender, para ela, era qualquer idade. Julia, na época com sessenta e poucos anos, sentiu-se uma menina e decidiu concluir o ensino médio e cursar a faculdade. "Gostaria de um dia encontrar essa senhora para lhe agradecer. Ela mudou minha vida com seu depoimento". Conversamos mais um pouco. Ela falou, novamente, sobre o primeiro livro que não quer demorar a escrever e a lançar. Porque quer publicar outros. Tem muitos planos. Muita vontade de viver. Falou-me do marido que morreu cedo. Da ausência de filhos, mas da presença de tantos amigos que ela fizera na faculdade, que ela faz na vida. Conversamos mais um pouco, caminhando. Fui bebendo de sua alegria e ouvindo seus tantos projetos que faziam seus olhos de menina, de menina de 72 anos, brilhar.
Convidou-me para uma festa naquela noite. Agradeci. "Festa”, repetiu ela, pronunciando sorridente e com vagar essa palavra cheia de significados. E concluiu: "A vida é uma festa". Concordei. Depende da nossa disposição. E, para isso, não há idade.
Por: Gabriel Chalita (fonte: Diário de S. Paulo) | Data: 09/01/2015

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