22 de setembro de 2010

Álcool nas relações amorosas

Novo estudo do CISA mostrou que os relacionamentos amorosos exercem um mecanismo de regulação dos padrões de uso de substancias (álcool e drogas) no início da vida adulta

Os relacionamentos amorosos - casamento, coabitação sem casamento e namoro sem coabitação - exercem, sim, um importante efeito protetor em relação a redução do beber pesado (definido como o consumo de quatro ou mais doses-padrão de álcool para mulheres e cinco ou mais doses para homens). Como depressor do sistema nervoso central, o álcool atua, preferencialmente, em estruturas neurais associadas à ansiedade. Por ser legalmente permitida, o álcool é a substância psicoativa mais consumida hoje no mundo.

Dentre as diversas complicações associadas ao alcoolismo, encontram-se a separação conjugal, o absenteísmo ocupacional (e a consequente perda do emprego), acidentes (principalmente os automobilísticos), uma extensa relação de doenças físicas (gastrite, diarreia, pancreatite, úlcera gástrica, cirrose, hepatite gordurosa, polineuropatia periférica, cardiomiopatia, entre outras) e o suicídio.

Pesquisa

Entre os resultados que mais chamaram a atenção no estudo recém-divulgado pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), foi o de que o simples fato de namorar já ser reconhecido como um forte fator de proteção em relação ao uso de álcool e maconha.

Até então, explica a psiquiatra e coordenadora do CISA Camila Magalhães Silveira, outras pesquisas haviam se limitado a demonstrar que os relacionamentos (estado civil, estabilidade, qualidade) podem exercer uma importante influência (positiva ou negativa) sobre o uso de álcool e drogas, principalmente entre os jovens.

As principais conclusões do estudo (no qual foram acompanhados 909 estudantes do ensino fundamental e médio, de dez escolas públicas norte-americanas por até dois anos após o término do ensino médio), apontam para uma constatação relevante, segundo a psiquiatra, de que os indivíduos casados, em comparação aos que apenas namoravam, registraram uma frequência menor em episódios de beber pesado.

Também apontou que, a interação entre a qualidade do relacionamento e o uso de drogas pelo parceiro foi considerada estatisticamente significativa para o beber pesado e o uso de maconha. "Quando um dos parceiros nunca bebia ou bebia pouco, esse considerava seu relacionamento de melhor qualidade quando seu parceiro fazia menos uso de álcool", informa Camila. Conforme os autores, Fleming BC, White HR e Catalano FR, o estudo indicou, assim, que o consumo de álcool pode ser influenciado pelo comportamento de seu parceiro e isso refletiria em sua percepção sobre a qualidade da relação.

Outro resultado importante diz respeito aos fatores de risco para o uso frequente de substâncias psicotrópicas entre os jovens solteiros. O ganho de autonomia conquistado pela vida adulta e a influência exercida por um parceiro podem representar uma maior exposição ao consumo de álcool e outras drogas. Para Camila Silveira, isso tende a ocorrer porque os "solteiros costumam passar mais tempo em eventos sociais, seja com o objetivo de encontrar um parceiro ou estabelecer um relacionamento social".

Na pesquisa, os jovens foram questionados sobre a frequência do beber pesado por seus parceiros, em uma escala de 1 (nunca) a 5 (frequentemente). Já sobre a qualidade dos relacionamentos, os entrevistados foram abordados com as seguintes perguntas: "Quanto você gosta de estar junto ao seu (sua) companheiro (a)?"; "Quando você precisa, quanto apoio seu (sua) companheiro (a) dá?"; "Em geral, quão satisfeito (a) você está com o seu relacionamento?". As primeiras duas perguntas poderiam ser respondidas com uma escala de 1 (não gosto/nada) a 5 (muito); para a terceira pergunta, as respostas poderiam ser de 1 (para muito satisfeito) a 5 (para muito insatisfeito). A partir das três respostas, era atribuído um valor final generalizado sobre a qualidade do relacionamento. Segundo os autores, essas perguntas cobriram três dimensões importantes para a qualidade do relacionamento: apreciação, apoio e satisfação.

CISA
Prevenção do abuso

O Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), organização não-governamental criada em 2004 pelo psiquiatra e especialista em dependência química, Arthur Guerra de Andrade, é considerado hoje a maior fonte de informações no País sobre o binômio álcool e saúde. Por meio de seu website (www.cisa.org.br), o Centro dispõe de um banco de dados com mais de 1.600 títulos, desde publicações científicas (nacionais e internacionais), dados oficiais e notícias publicadas em jornais e revistas destinadas ao público em geral. O CISA também atua na prevenção do abuso e nos problemas do uso indevido da substância por meio de parcerias e elaboração de materiais de apoio para pais e educadores.

DOSE PADRÃO

350 mililitros (ml) de cerveja, 150 ml de vinho ou 50 ml de destilado equivale, aproxidamente, a 12 g de álcool puro. Essa quantidade equivale a uma dose-padrão de bebida alcoólica.

Nenhum comentário: