13 de março de 2010

Reza forte

NELSON MOTTA

"Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos, e sabedoria para distinguir umas das outras."

É uma oração poderosa, que qualquer candidato a presidente da República deveria fazer, todo dia ao acordar. Popularizada pelos Alcoólicos Anônimos, a "Oração da serenidade" já ajudou muita gente a se recuperar e não serve só para os bebuns, mas também para os dependentes de drogas, de jogo, de sexo e até mesmo de poder. Ou alguém duvida que o poder aja como uma droga em certas pessoas, levando-as a fazer qualquer coisa para manter o vício? Só isto pode explicar, sem justificar, as mentiras, vergonhas e crimes de tantos viciados em poder. A maioria não tem cura, nem quer se curar, para eles a política é "uma cachaça".

No caso de Lula é diferente, ele ficou tão poderoso que deve achar que o poder é que é viciado nele. Mas até ele já fez o elogio da serenidade, quando criticou o "terrorismo eleitoral". É óbvio que nenhum governo que vier mudará substancialmente o que está funcionando bem. Ninguém vai privatizar a Petrobras nem acabar com o Bolsa Família; ninguém vai instituir a censura ou mudar a política econômica. Alguns problemas são insolúveis a curto e médio prazos, ou estão fora do alcance dos governos, são atrasos culturais brasileiros que só mudam ao longo de gerações. Outros, dependem de inteligência, competência e coragem para enfrentá-los. É dessa sabedoria para distinguir uns dos outros que eles precisam.

Desde a empulhação do Plano Cruzado, do confisco de Collor e da nossa moratória internacional, com todas as suas consequências, ninguém acredita mais em soluções mágicas ou revolucionárias. Os brasileiros começam a perceber que tudo é um processo, que é feito de avanços e atrasos, mas não para. E não depende só da vontade política dos governantes.

O país melhorou, é claro, mas quase tudo ainda precisa melhorar muito. A começar pelas campanhas políticas. Dai-nos serenidade para escolher quem pode fazer melhor o que precisa ser feito. Parece o óbvio, mas é o sábio.

Texto publicado no Globo de hoje.

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