11 de outubro de 2009

Carl Jung e sua perspectiva para o desenvolvimento dos Alcoólicos Anônimos

O AA desde seu surgimento, em 1935, tem sido um baluarte na busca da recuperação da dependência química. Pode-se dizer que AA surgiu a partir da necessidade de se dialogar. Foi através do diálogo que Bill Wilson - corretor da bolsa de valores de Nova Iorque - e Bob Smith - médico cirurgião de Ohio – ambos pertencentes ao estrato social da classe média alta, mas com uma vida fracassada pelo álcool, perceberam que ao conversar sobre as dificuldades em se abster do álcool, bem como as conseqüências nefastas resultantes do uso do álcool, lhes deixava mais aptos a manterem-se abstêmios. Esse hábito de conversar foi o trampolim para eles fundarem o AA, grupo de auto-ajuda que tem como objetivo auxiliar as pessoas que sofrem de alcoolismo e/ou outras drogas a se recuperarem. Talvez a premissa básica do AA seja a renovação do compromisso diário de evitar o “primeiro gole”. Cada um busca se tornar líder, especialmente de si mesmo, mas, também dos outros, para, assim, se tornarem exemplos a serem seguidos. No AA existe coesão social, pois afeto, acolhimento, solidariedade, compartilhamento do que cada um possui do ponto de vista humano, há o senso do pertencimento e com isso são criados laços emocionais fortes especialmente entre os pares. É através do diálogo que os membros de AA compartilham sentimentos, desejos, frustrações e experiências e são essas trocas que direcionam a caminhada para a manutenção da abstinência desses membros. Os diálogos, as leituras e as trocas permitem ao dependente químico ter consciência de sua dependência e, ao mesmo tempo, se por perante o grupo como alguém que necessita de ajuda. O AA busca um despertar no sentido de que os seus membros reflitam da seguinte forma: “Só eu posso me ajudar, mas preciso de ajuda”. Essa descoberta é bárbara, pois há uma perfeita inter-relação entre o individual e o coletivo.
E nessa busca de ajuda vale especialmente a ajuda de um Poder Superior. E é nesse contexto que se oportuniza, ou se possibilita mais o exercício da fé, pois os princípios do AA não se correlacionam por acaso. Eles têm uma seqüência lógica em cada “Passo”. E os primeiros “Passos” explicitam a ação de um Poder Superior, o qual deve ser buscado na sua intensidade para a superação desse modus vivendi desequilibrado. Pesquisas recentes também têm revelado a importância da fé, da espiritualidade, como componentes básicos, necessários a qualquer ser humano, para se viver uma vida mais plena de significados.
E um dos grandes estudiosos da mente humana a apreender o significado da importância da religiosidade para a saúde psicológica foi Carl Jung. Para Jung, Deus e ser humano estão inter-relacionados, uma vez que todo ser humano tem algo de divino.
Segundo Jung toda pessoa tem dentro de si forças curativas, bastando para isso perceber os insights que lhe são oportunizados. Para Jung, a perspectiva religiosa re-liga o homem a Deus, possibilitando assim, a cura e o equilíbrio da vida. Daí, a importância do ser humano, inclusive, limpar seu “arquivo mental” das mágoas, medos, ressentimentos, culpas. De acordo com os preceitos do AA, o Poder Superior liberta da escravidão dos aspectos materiais, mentais e emocionais, tornando o ser humano, assim, senhor de si mesmo, capaz de realizar-se como pessoa humana.
A ênfase espiritual de Jung é contundente em sua carta a Bill W., co-fundador dos AA, como sendo a prática da espiritualidade, no seu sentido mais intenso e profundo possível, a última e única solução para que Holand H, que fôra seu paciente, solucionasse seu problema: se abster do alcoolismo. Jung não só influenciou na conversão e cura de Holand H., como também do próprio Bill W. e outros, mas também na co-fundação do AA, em 1935. Bill W., na busca da libertação do álcool, estava na mais profunda depressão, sem o mínimo de fé, quando, no seu limite, clamou rogando que ‘Se existe um Deus, que se manifeste!’. No mesmo instante, Bill W. foi libertado da obsessão alcoólica. Esse fato mostra que também na “situação-limite” há possibilidades de superação, a partir de uma profunda experiência espiritual, o que fora preconizado por Carl Jung.
Carl Jung teve um papel decisivo na criação da irmandade Alcoólicos Anônimos, especialmente sob a perspectiva espiritual. Foi muito importante, na verdade foi uma inovação a intervenção de Jung unindo ciência e espiritualidade para a resolução dos dramas existenciais humanos, pois para Jung, o ser humano é um ser físico, mas, também, metafísico, transcendental, espiritual.
O dependente químico é um ser humano, que, apesar da perda da autonomia e da liberdade pessoal, em maior ou menor grau, para conduzir sua vida agindo de forma construtiva, tem o livre-arbítrio como uma possibilidade de transformar o seu drama humano em um projeto concreto de vida pleno de significados e valores. Quando esse insith é percebido e vivenciado há um despertar para a vida no sentido global de sua saúde mental e da existência humana.

Nenhum comentário: